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Houve
um rapaz que desfiava as horas de travessia em traços finos,
que marcaram a memória do rio. Fazia tempo.
Retirava da descoberta inesperada do papel as raízes, os
rumos e um pouco do destino de cada face, nos olhares desesperados
e inconstantes, e nos movimentos incomodados que lhe aceleravam
os gestos e se tornavam nas palavras secretas da existência.
Compunha, revia e guardava, nalguns casos, o único registo
físico que ficou dessas vidas desiguais, de que ninguém
se lembra e com as quais agora nos confrontamos num desafio melancólico,
num exercicio irreal. Somos obrigados a um reconhecimento imediato
das emoções desta gente como quem tropeça num
desnível temporal e revisita a angústia ou o cansaço
que os traços transpiram.Caras tão iguais às
que conhecemos e tentamos adivinhar, falas tão próximas
e distantes, sem as quais se desvanece a nossa presença.
Paulo Santiago |
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